Lembro-me de um paciente que atendi, extremamente ansiosa, com muito medo de adoecer e supervalorizando doenças que havia apresentado recentemente. Ela já havia passado por 3 profissionais psiquiatras nos últimos 3 meses e estava desesperançosa em iniciar mais uma medicação. Todos os colegas anteriores haviam passado excelentes medicações, mas aquela paciente não havia tolerado mais que alguns dias com cada uma delas e sempre com muitos eventos adversos. Foi ali que eu entendi: o remédio desta paciente não seria uma medicação, e sim um vínculo.
Hoje quero trazer pontos importantes de um artigo que tematiza esse vínculo.
O artigo “How (not what) to prescribe” de Mintz, 2012, destaca que o impacto do tratamento psiquiátrico depende mais de como o médico conduz a prescrição e o manejo clínico do que dos tratamentos específicos em si. A qualidade da relação médico-paciente, marcada por empatia, validação emocional e proximidade, pode potencializar significativamente a eficácia do tratamento.
Na prática clínica, é fundamental que o médico invista tempo em entender profundamente o contexto e a história de vida do paciente, ouvindo ativamente suas preocupações e experiências. Isso não só ajuda na construção de uma relação de confiança, mas também permite que o médico personalize as intervenções de acordo com as necessidades e os valores do paciente.
O autor enfatiza que o ato de prescrever não deve ser meramente técnico; é uma oportunidade de engajar o paciente em uma conversa sobre expectativas e temores, abordando o tratamento como um processo colaborativo. Um bom prescritor, segundo Mintz, educa o paciente sobre os medicamentos de forma clara e acessível, desmistificando possíveis preconceitos e ajudando a manejar expectativas realistas.
A abordagem validante, onde as preocupações do paciente são reconhecidas e respeitadas, contribui para a adesão ao tratamento e para a eficácia das intervenções psicofarmacológicas. Isso é especialmente relevante em psiquiatria, onde a aliança terapêutica é um dos principais preditores de sucesso terapêutico.
Além disso, o artigo aponta que a flexibilidade do médico, tanto no ajuste dos tratamentos quanto na receptividade ao feedback do paciente, é crucial. Adaptar o plano de tratamento com base nas respostas do paciente, mantendo sempre um canal aberto de comunicação, fortalece a confiança e melhora os resultados clínicos.
Em resumo, a habilidade do médico em criar um ambiente de cuidado que seja acolhedor, compreensivo e centrado no paciente pode ser tão importante quanto a escolha do tratamento.
Atenção: um excelente remédio prescrito por um prescritor pouco atento ao paciente faz menos efeito que um medicamento mediano prescrito por um bom médico.
A abordagem humanizada e empática é, muitas vezes, o diferencial que define o sucesso terapêutico na psiquiatria.
E aí, você concorda com esses achados?