Mais (evidências) sobre depressão pós parto

Para as mamães que gostam de ler artigos científicos, fica o convite pra ler um pouco mais sobre tratamento na depressão pós parto.

 Numa recente manhã de plantão no pronto socorro, recebi uma mãe de primeira viagem que, embora tivesse um bebê saudável e bons vínculos familiares, se sentia distante e emocionalmente exausta. Me relatou um cansaço profundo, sem energia e, acima de tudo, a sensação de não conseguir criar uma conexão verdadeira com o filho. Ao chorar e desabafar sobre como achava que “não daria conta”, ficou claro que ela estava enfrentando um quadro de depressão pós-parto. Sintomas como desânimo, choro fácil, impaciência e falta de prazer em cuidar do bebê indicavam a necessidade de intervenção. Mas a clássica pergunta logo veio “mas Dra, com esse remédio vou poder amamentar? Pode fazer mal pro meu bebê?”

Por isso, senti vontade de voltar a escrever sobre o tema. 

E me lembrei do resultado de uma coorte norueguesa que foi publicada em 2023, abordando desfechos em mães que fizeram uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), medicações mais comumente prescritas para mulheres com depressão no pós parto, e comparando com as mães que não fizeram o tratamento.

Bom, no estudo de Liu et al. (2023) sobre tratamento da depressão pós-parto, os dados indicam que, quando administrados adequadamente, esses medicamentos podem melhorar significativamente os sintomas depressivos no curto prazo. As mães que recebem esse tratamento frequentemente relatam uma rápida estabilização do humor, o que facilita o estabelecimento de uma ligação emocional com seus bebês e melhora a qualidade do cuidado materno.

O estudo destacou que, a médio prazo, o tratamento com ISRS ajuda a manter a estabilidade emocional da mãe, contribuindo para o desenvolvimento saudável do bebê. O estudo acompanhou mães e filhos durante meses e verificou que as crianças não apresentaram diferenças significativas no desenvolvimento motor ou cognitivo em relação a crianças cujas mães não utilizaram antidepressivos. Além disso, o estudo não encontrou efeitos adversos substanciais nos bebês sob aleitamento materno, o que tranquiliza muitas mães que têm receio de amamentar enquanto estão em tratamento.

A longo prazo, o impacto positivo desse tratamento é ainda mais impressionante. Mães que trataram a depressão pós-parto com ISRS demonstraram maior resiliência emocional, melhor qualidade de vida e uma recuperação mais robusta do que aquelas que não receberam o tratamento adequado. Liu et al. ressaltam que, ao longo dos anos, essas mães também apresentam menores taxas de recaída depressiva e uma melhor qualidade na relação com seus parceiros – relembro que a depressão pós parto aumenta as chances de separação conjugal. A estabilidade emocional da mãe se traduz em um ambiente mais saudável para a criança crescer e se desenvolver.

O estudo também enfatizou a importância do suporte psicoterápico em conjunto com o tratamento medicamentoso. As intervenções terapêuticas ajudaram a fortalecer os laços familiares, promoveram o autoconhecimento e ofereceram às mães ferramentas para lidar com os desafios do dia a dia. A psicoterapia foi fundamental para evitar recaídas e melhorar a dinâmica familiar, especialmente entre os casais. O estudo constatou que parceiros envolvidos no tratamento, e que também participavam das sessões de terapia, apresentavam uma melhor comunicação e entendimento das necessidades emocionais da mãe, o que diminuiu significativamente os conflitos familiares. Este fato reforça que são válidas as minhas psicoeducações com os parceiros de minhas pacientes.

Ao final, Liu et al. apontam que, quando a depressão pós-parto é tratada corretamente, os efeitos são amplamente positivos para a mãe, o bebê e toda a família. O tratamento medicamentoso, combinado com o suporte psicoterápico, pode mudar o curso da vida dessas mulheres, prevenindo consequências mais graves como o agravamento dos sintomas depressivos ou o surgimento de transtornos de ansiedade.
Adendo, nem toda depressão pós parto necessita de medicação e nem toda medicação escolhida será ISRS. Mas trouxe esse artigo por ser recente e ter robustez de informações válidas.

Por fim, se você ou alguém próximo está passando por um momento semelhante, é essencial buscar ajuda profissional. A depressão pós-parto é uma condição tratável e, como mostram os dados científicos, tratar essa condição no início traz benefícios duradouros para a mãe, o bebê e a família.

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